Enquanto os foliões já se divertem nas festas de pré-carnaval, as escolas de samba de Paranaguá e Antonina, no Litoral do Paraná, correm contra o tempo para fazer bonito na avenida do samba. A pouco menos de duas semanas da grande festa, a movimentação é intensa para afinar a bateria e concluir as fantasias, os adereços e carros alegóricos, que precisam estar impecáveis no dia do desfile.
Sem barracões próprios para concentrar as atividades e os ensaios, as escolas de samba do Litoral improvisam como dá. Na maior parte das agremiações, as fantasias e os adereços estão sendo feitos em espaços alugados ou na casa dos próprios integrantes, que passam horas debruçados em cima de máquinas de costura, tecidos, linhas, plumas, lantejoulas e uma infinidade de outros materiais que vão dar vida ao enredo. Com exceção da escola de samba Batel, de Antonina, a única que tem um barracão próprio, todos os ensaios ocorrem à noite, na rua mesmo, geralmente depois das 21 horas, quando o calor já deu uma trégua.
A carnavalesca Daniele Camargo, da Unidos do Portinho, de Antonina, transformou um espaço nos fundos da casa em um mini- barracão. Lá, o som da máquina de costura disputa espaço com o samba enredo deste ano, que vai homenagear o bairro que dá nome à escola. A poucos dias do desfile, a letra precisa estar na ponta da língua, lembra Daniele, que desfila desde os 8 anos de idade no carnaval de Antonina. “Meus avós foram presidentes da Filhos da Capela”, diz ela. “Coração dividido? Nem pensar. Sou Portinho”, finaliza.
Na escola de samba Filhos da Gaviões, de Paranaguá, as fantasias estão quase todas prontas e a preocupação agora é com a montagem dos carros alegóricos, que, assim como os ensaios, também será feita na rua. “Esperamos que o tempo continue nos ajudando”, disse Carlos Nascimento, presidente da escola, que terá três alegorias feitas por artistas de Parintins, (Amazonas). Na reta final, “o segredo para vencer o cansaço está na paixão pelo carnaval”, revela Nascimento.
Concorrentes
Seis escolas de samba participam do desfile em Antonina: Unidos do Portinho, escola de samba Batel, Filhos da Capela, Leões de Ouro, Batuqueiros do Samba e Brinca Para Não Chorar. Apesar de não haver concurso para premiar a agremiação vencedora, a disputa para conquistar a preferência do público é acirrada, garantem presidentes e membros das escolas. “A competição é grande, mas saudável e sem brigas”, diz Gicelda Machado Passos, presidente da Filhos da Capela, que neste ano vem com o enredo “Antonina, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, cantando a força e a união do povo antoninense durante a tragédia das chuvas do início do ano passado.
Em Paranaguá, as escolas de samba Leões da Estradinha, Filhos da Gaviões, União da Ilha e Mocidade Unida do Jardim Santa Rosa vão disputar o título do grupo especial. No grupo de acesso concorrem Acadêmicos do Litoral Paranaense, Comunidade Unida da Vila Alboit e Unidos da Ponta do Caju. Campeã do grupo de acesso no ano passado, a Leões da Estradinha vai homenagear a escola de samba Cartolas de Prata, extinta em 1992, dando continuidade ao samba enredo de 1990 “O Neguinho Sumiu”. “As pessoas vão se surpreender com as novidades que vamos levar para a avenida neste carnaval”, garante o carnavalesco da escola, Mágico Júnior.
Recursos
A batalha para chegar à avenida.
Na reta final da preparação para o carnaval, as escolas de samba acabam esbarrando nas limitações financeiras. Para Osnei Pereira, presidente da Comunidade Unida da Vila Alboit, de Paranaguá, o dinheiro escasso é uma barreira difícil de transpor. “É uma luta muito grande levar a escola para a avenida. Neste momento não temos dinheiro nem para pegar os abadás com a costureira”, desabafa o presidente, que estima em R$ 50 mil o custo total do desfile da escola.
Apoio
Em Paranaguá, a prefeitura dá R$ 30 mil para as escolas do grupo especial e R$ 20 mil para as escolas do grupo de acesso. As escolas de samba de Antonina recebem uma ajuda de custo de R$ 8 mil. Segundo Tenile Xavier, presidente da Associação das Escolas de Samba de Paranaguá, o valor repassado pelas prefeituras é insuficiente para fazer um carnaval digno do que espera o público. “As escolas buscam patrocinadores, fazem promoções, bingos, mas esse não é um caminho fácil”, diz Tenile. “A saída tem sido usar a criatividade, improvisar e reaproveitar materiais de anos anteriores.”
Fonte: Cíntia Junges, especial para a Gazeta do Povo
Surrupiado do Blog do Reginaldo Gouvea.